Falta luz ao poste Ipiranga

Às vezes você tem que levantar paredes, não para afastar as pessoas, mas para ver quem se importa o suficiente para derrubá-las. – Sócrates

Luiz Claudio Romanelli

Na década de 1930, os Estados Unidos abandonaram a ortodoxia do liberalismo econômico para tentar se reerguer da quebra da Bolsa de Valores. Entrou em cena uma nova estratégia, que foi colocar dinheiro público em projetos de infraestrutura, no estímulo à produção de bens e em programas sociais. O movimento permitiu gerar empregos e renda e, assim, fazer a economia girar novamente.

Este exemplo bastante conhecido é para lembrar que existem diversos caminhos que podem ser seguidos para estimular o crescimento de uma nação em momentos de crise. Ideias diferentes das teorias pregadas por liberais e neoliberais devem ser consideradas para resgatar ciclos virtuosos da economia. O investimento público é um meio eficaz para isso.

Nos EUA, sabidamente o País mais capitalista do planeta e berço do neoliberalismo, há outros exemplos do uso do recurso público para alavancar a economia. Diversos presidentes recorreram a este expediente e transferiram dinheiro do Estado para a sociedade, como faz agora Joe Biden, com um programa de US$ 1,9 trilhão para combater os reflexos da crise sanitária sobre os americanos.

Por aqui, a preferência é insistir nas teses neoliberais e tentar afastar o governo central de suas responsabilidades para promover o bem-estar da sociedade. A aposta é de que a saída para a crise será produzida pela ação dos mercados, e não pela intervenção do Estado.

O resultado é que estamos sentindo os efeitos da inação do governo no bolso e no agravamento do panorama social. Inflação de dois dígitos, juros nas alturas, desemprego e miséria galopantes e crescimento negativo da economia, conforme mostra o PIB do terceiro trimestre.

O ministro da Fazenda Paulo Guedes queria ficar para história como o economista das transformações, mas mais parece um animador de auditório, daqueles que circulam entre a plateia fantasiados para arrancar alguma animação dos espectadores, mesmo com o espetáculo ruim que está sendo levado ao público.

O presidente Jair Bolsonaro, que deveria ser o protagonista do show, só consegue dar conta de encenações medíocres. Réu confesso da sua ignorância, o presidente sempre disse que não entendia de economia e por isso deu carta branca ao ministro para conduzir a política econômica nacional. O resultado é que estamos escavando o fundo do poço.

O fato é que a gestão federal acumula incompetência e incapacidade, sem adotar nenhuma iniciativa que permita vislumbrar a retomada da economia, a melhoria da condição de vida das pessoas, a estabilidade e a credibilidade do Brasil. A previsão dos economistas é de que o País acumule baixas taxas de crescimento e que o ciclo inflacionário perdure pelo menos até o ano que vem.

Ao contrário das responsabilidades que deveriam assumir, o presidente e o ministro da Economia estão explodindo pontes para o futuro e preferem seguir alimentando a linha de produção de bravatas e de insegurança. Ao povo resta a sina de pagar a conta, com a única certeza de que a inflação continuará a corroer seu salário e de que nenhuma melhora significativa ocorrerá no curto prazo.

Tão triste quanto ver a inflação corroendo o poder de compra de quem mais precisa é ver o ministro Paulo Guedes propagandear a tal recuperação em V, e ainda considerar que a nova queda do PIB, que coloca o País tecnicamente em recessão, tem algo de positivo. Guedes não é o Posto Ipiranga, é o poste Ipiranga!

A história certamente vai registrar a tragicomédia protagonizada pela trupe atualmente instalada no Palácio do Planalto. A condução da economia é abaixo da crítica e a situação real do Brasil é de desgoverno. Nesta toada, logo o País alcança a depressão. É preciso uma nova orientação econômica para estimular, no mínimo, o retorno à normalidade.

Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual e vice-presidente do PSB do Paraná