Indústria do Paraná avança em projetos de transformação de resíduos em biogás

Foto: reprodução

Indústrias do Paraná estão avançando na implantação de projetos de transformação de resíduos orgânicos em biogás para utilização em suas próprias operações ou nas comunidades em que estão inseridas. Nesta terça-feira (18), o webinar “Biogás: Modelos de Negócio para um Ambiente Sustentável” apresentou o andamento de dois projetos em desenvolvimento no Estado, que envolvem o setor moveleiro de Arapongas e empresas de processamento de mandioca da região Noroeste.

As iniciativas fazem parte de dois convênios de cooperação técnica assinados entre a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (Sima), o Sindicato das Indústrias da Mandioca do Paraná (Simp) e o projeto GEF Biogás Brasil. Este último é liderado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e implementado pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO).

Sobre os projetos
O projeto GEF Biogás Brasil, liderado pelo MCTI e implementado pela UNIDO, prevê ações locais e nacionais de estímulo à integração do biogás à cadeia produtiva brasileira. O projeto recebe recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (Global Environment Facility, ou GEF), um mecanismo internacional de cofinanciamento que apoia projetos em países em desenvolvimento.

No Paraná, após articulação do Conselho Temático de Energia da Fiep, o projeto chegou às parcerias com o Sima e o Simp. “A gente considera essa parceria como uma oportunidade ímpar”, afirma o coordenador do Conselho, Rui Londero Benetti. “Com a soma dos nossos esforços, com certeza vamos alavancar a aplicação do biogás em todos os segmentos da nossa cadeia produtiva paranaense”.

Indústria moveleira
Em Arapongas, o foco inicial do projeto era a troca do combustível utilizado nas 300 empilhadeiras das indústrias moveleiras associadas ao Sima. Atualmente, elas utilizam o GLP, derivado do petróleo. A intenção era desenvolver uma cadeia produtiva de biometano obtido de processos de geração de biogás a partir de resíduos orgânicos, com origem de dejetos de galinhas poedeiras. Posteriormente, com a entrada da prefeitura do município na parceria – que trouxe junto novos atores, como o Instituto Federal do Paraná (IFPR) e a Universidade Estadual de Londrina (UEL) – o estudo foi ampliado.

O consultor da UNIDO e especialista em resíduos e biogás pelo projeto GEF Biogás Brasil, Luis Felipe Colturato, explica que, atualmente, o trabalho busca identificar os substratos dos resíduos que serão utilizados, sugestões de tecnologias para implantação, aplicações de possibilidades e um grande estudo de viabilidade econômica do projeto. “Além das galinhas poedeiras, a gente tem resíduos urbanos e efluentes industriais e domésticos que podemos trazer para essa primeira prova de conceito, em que pretendemos abastecer 15 empilhadeiras e 15 veículos (da prefeitura)”, afirma. “O projeto cresceu de uma forma bastante ampla, no sentido de a gente transformar a região de Arapongas num grande modelo de economia circular e de arranjo produtivo local, identificando vários outros atores”, completa.

O secretário de Indústria e Comércio de Arapongas, Nilson Violato, acrescenta que essa é justamente a intenção da prefeitura ao abraçar e buscar a ampliação do projeto. “Queremos construir um ecossistema de energias renováveis, com empresas, faculdades e instituição que estarão juntos conosco”, diz. Além da parceria com o GEF Biogás e a UNIDO, na última semana foi firmado outro termo de cooperação técnica entre a prefeitura de Arapongas e a Fiep, em que a entidade vai financiar bolsas para dois doutores que integram a equipe responsável pela elaboração dos estudos de viabilidade do projeto. A expectativa, segundo Violato, é que os estudos sejam finalizados até julho. Na sequência, serão buscados mecanismos de financiamento para a concretização da primeira planta de produção e realização das provas de conceito.

O presidente do Sima, Irineu Munhoz, acredita no potencial da iniciativa, que poderá servir de modelo para outros municípios. “Tenho certeza que, desse projeto que vamos conseguir implantar, vai surgiu uma forma nova de utilização dos resíduos de todo o município, e com isso poderá ser replicado nos municípios vizinhos e de outras regiões do Estado”, declara.

Indústria da mandioca
Já o projeto em parceria com o Simp busca a ampliação da capacidade e novas utilizações para o biogás que já é produzido por indústrias de processamento de mandioca há alguns anos. “Em Paranavaí e região, as indústrias já utilizavam biogás como fonte térmica, dispensando a lenha, o que já é um grande ganho ambiental”, explica Rui Londero Benetti, do Conselho Temático de Energia da Fiep. “Agora, com o projeto junto à Unido, estamos ampliando esse leque, indo para a geração de energia e a produção de gases nobres, porque o resíduo da mandioca é muito nobre na formatação de gases”, acrescenta.

O presidente do Simp, Guido Bankhardt, conta que a produção de biogás já é uma realidade no setor. “A mandioca tem um potencial energético muito alto. Até 7 anos atrás, todas as caldeiras das indústrias eram movidas a lenha. Hoje, praticamente 100% delas não usam mais lenha, usando o biogás”, afirma. Segundo ele, com o passar do tempo, as indústrias passaram a produzir mais biogás do que o necessário para abastecer suas caldeiras e, por isso, buscam alternativas para utilização do excedente. “Acredito que, com esse novo modelo, em pouco tempo todas as indústrias de mandioca serão autossuficientes em energia térmica e elétrica”, completa.

Luis Colturato, da UNIDO, apresentou detalhes técnicos dos projetos

Luis Felipe Colturato, da UNIDO, reforça o potencial desse setor para a geração de biogás a partir dos resíduos do processo produtivo. Segundo ele, o Brasil é o quarto maior produtor mundial de mandioca, sendo que o Paraná responde por 63% da produção nacional de fécula – um dos subprodutos da indústria. “A partir de 2012, começou uma grande crescente de número de plantas de produção de biogás nessas indústrias. Hoje, 73% da produção de biogás a partir da mandioca no Brasil vem do Paraná”, destaca. “Nessa parceria, trabalhamos com 10 fecularias na região Noroeste, todas produzindo biogás e utilizando como substituição à lenha de uma maneira bastante interessante. Verificamos a oportunidade de contribuir para otimizar esse processo, e nossa grande meta nesse projeto é gerar um manual de boas práticas e apoio de tomada de decisão para o aproveitamento de efluentes da indústria de mandioca”, finaliza.

Agência Fiep