39 anos de Chernobyl: as sombras persistentes do maior desastre nuclear da história

Nesta sexta-feira, o mundo relembra os 39 anos do desastre de Chernobyl, a maior catástrofe nuclear da história, ocorrida em 26 de abril de 1986. O acidente, que devastou a região de Pripyat, na então República Socialista Soviética da Ucrânia, deixou marcas profundas na saúde pública, no meio ambiente e na política global, cujos efeitos ainda ressoam.

Às 1h23 da madrugada, durante um teste de segurança na usina nuclear de Chernobyl, o Reator 4 explodiu. A explosão liberou uma nuvem de material radioativo que se espalhou por boa parte da Europa. Nas horas seguintes, dezenas de funcionários da usina e bombeiros foram expostos a níveis letais de radiação, muitos deles sem o menor equipamento de proteção. Dois trabalhadores morreram imediatamente, e cerca de 28 morreram nos meses seguintes devido à síndrome aguda da radiação.

O governo soviético demorou dias para admitir a gravidade do acidente, e só após a detecção de radiação na Suécia é que a União Soviética reconheceu publicamente o ocorrido. Pripyat, cidade-modelo construída para abrigar os trabalhadores da usina, foi evacuada às pressas 36 horas após a explosão. Os moradores deixaram para trás seus pertences e, até hoje, a cidade permanece congelada no tempo — um lembrete assombroso da tragédia.

Estima-se que mais de 200 mil pessoas tenham sido reassentadas, e milhões tenham sido expostas à radiação em diferentes níveis. O número total de mortos ligados ao desastre ainda é motivo de debate, com estimativas que variam entre 4 mil e 90 mil, dependendo da metodologia utilizada.

Legado e aprendizados

Trinta e nove anos depois, Chernobyl se tornou símbolo dos riscos da energia nuclear mal administrada e da censura em regimes autoritários. O acidente teve papel crucial no enfraquecimento da confiança pública na União Soviética e é considerado um dos catalisadores do seu colapso, em 1991.

A chamada “zona de exclusão” de 30 km ao redor da usina permanece, em grande parte, desabitada, embora atraia pesquisadores, cientistas e turistas. A vida selvagem prosperou em meio à ausência humana, apesar dos altos níveis de contaminação ainda presentes no solo e na água.

A cobertura popular do desastre foi revitalizada em 2019 com a minissérie da HBO, que reacendeu o interesse global pelo evento. A produção destacou o heroísmo dos trabalhadores que sacrificaram suas vidas para conter o pior — e a burocracia que quase agravou a tragédia.

Em busca de segurança energética

Desde então, padrões internacionais de segurança nuclear foram significativamente reforçados. O desastre de Chernobyl é citado como ponto de virada para a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e impulsionou reformas em protocolos de transparência e prevenção.

Enquanto o mundo encara uma nova corrida energética, diante da crise climática e da busca por fontes mais limpas, o dilema de Chernobyl permanece: como equilibrar o potencial da energia nuclear com os riscos que ela pode representar?

Neste 26 de abril de 2025, a memória de Chernobyl serve como advertência. Quase quatro décadas depois, o silêncio das florestas radioativas e os prédios vazios de Pripyat lembram que a negligência e o segredo podem ser tão perigosos quanto a radiação invisível.